Não faz muito tempo que a Ecologia Comportamental (EC) firmou seu espaço no Brasil, mas parece uma longa história quando focamos nos seus resultados e conquistas. Apenas cinquenta anos depois de começar a aparecer no país, ainda com uma lista importante de desafios a serem vencidos, a ciência do comportamento animal se firmou e está presente não só nos estudos mais puros, mas também nos avanços da agricultura e da sistemática de insetos, para citar apenas algumas de suas parceiras mais assíduas.
"A ciência que fazemos aqui é muito boa, importante, e tem repercussão mundial", diz o professor Kleber Del-Claro, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Convidado a conversar com a SBE sobre a Ecologia Comportamental, sua própria especialidade, ele destaca tanto os feitos das últimas décadas quanto o que, por falta de apoio e de financiamento, não foi possível fazer. "Vivemos anos nefastos para a ciência brasileira, e sentimos isso demais na nossa prática. Mas conseguimos manter as pontes, e agora estamos reconstruindo nossas relações. Além dos cortes que sofremos, também teve uma pandemia que atrapalhou demais o desenvolvimento de pesquisas internacionais. A gente precisa, e eu acredito que teremos isso agora, de iniciativas, de editais com mais transparência, com prazo para que possamos retomar nossas práticas."
Nossas práticas, é importante destacar, incluem a atuação de dezenas de pesquisadores, em diversas instituições do país, com um enfoque cada vez mais diversificado. "A maior parte das pessoas que trabalha com Ecologia Comportamental fazendo experimentos, fazendo manipulação, atua na área de interações animais/plantas. Estão, por exemplo, testando e usando ferramentas da EC em estudos de herbivoria, de polinização, de dispersão de sementes", conta Kleber, destacando também estudos acerca de formigas, abelhas, borboletas e besouros. "A última década tem avançado também nos estudos de odonatos, que são as libélulas. Têm aparecido grupos aplicando a EC em estudos de territorialidade, por exemplo, e em comportamento reprodutivo das libélulas."
Entre os grupos em atuação no Brasil, Kleber destaca o do professor Jean Carlos Santos, na Universidade Federal de Sergipe, assim como o de Rayner Ferreira, que está hoje no Instituto Técnico Federal de Uberaba, ambos trabalhando com libélulas. "Tem também o grupo do professor Paulo Sérgio Oliveira, na Unicamp, que foi meu orientador de doutorado e trabalha principalmente com formigas." Na USP de Ribeirão Preto, ele destaca o trabalho do professor Fábio Nascimento, com comportamento abelhas e vespas. "Essas últimas são também objeto de estudo do professor Fábio Prezoto, na Universidade Federal de Juiz de Fora, que trabalha muito bem com comportamento de vespas sociais no ambiente urbano." As vespas solitárias são o foco do trabalho, internacionalmente reconhecido, da professora Isabel Alves dos Santos, na USP de SP. No trabalho com borboletas, Kleber destaca Lucas Kaminski, da Universidade Federal do Alagoas, e Denise Lange, que atua na Universidade Federal Tecnológica do Paraná. Além de borboletas, Denise pesquisa também formigas e a relação delas com as plantas.
"Temos também pesquisadores muito bons trabalhando na ecologia comportamental com biologia floral e polinização. O professor Felipe Amorim, em Botucatu, com as mariposas polinizadoras, e o Rodrigo Santinelo Pereira, na USP de Ribeirão Preto, com a Polinização de Vespas do Figo, têm um intercâmbio grande com o pessoal da França", ele acrescenta. Na própria UFU, ele destaca sua colega Helena Maura Torezan, que trabalha também em parcerias internacionais - com pesquisadores da Espanha, da Alemanha e dos EUA - com polinização e dispersão de sementes, abordando aspectos da herbivoria comportamental e efeitos do aquecimento global no comportamento dos polinizadores.
A lista não é pequena, mas Kleber reforça que o número poderia ser muito maior, não só na EC voltada para a Entomologia, mas em áreas afins também. "Eu acho que ainda temos poucos orientadores nesta área, embora trabalhemos muito, tanto que não temos um congresso brasileiro de Ecologia Comportamental, por exemplo. De uma maneira geral, os eventos nos dão pouco espaço, e essa é uma ciência muito interessante, porque ela tem traços que se esparramam por muitas áreas de conhecimento."
Outro desafio a vencer é a perda de talentos para o exterior, onde são mais garantidas as boas condições de pesquisa. "Nós formamos muitos jovens, temos formado grupos muito importantes. Eu, por exemplo, já formei mais de cem alunos em mestrado e doutorado", diz Kleber, lamentando, porém, que boa parte deles acaba se empregando fora do Brasil. "Eu tenho alunos hoje na Universidade de Cincinnati, na Flórida, na Pensilvânia, no Canadá, na Espanha, na Áustria… os meninos foram embora porque não tinham perspectiva aqui, estão fazendo ciência lá."
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