Construir uma coleção de referência no Nordeste brasileiro, longe da tradição da ciência feita no Sul e Sudeste do Brasil, é a missão ambiciosa que a pesquisadora Daniele Parizotto decidiu encarar de frente. Com o time de pesquisadores do Laboratório de Hymenoptera (LabHym) da Universidade Federal Rural de Pernambuco, ela trabalha na ampliação das pesquisas em torno de abelhas e vespas no país, expandindo não apenas o tipo de abordagem, mas também os limites territoriais dos estudos.
"Somos um grupo jovem, em formação. Estamos seguindo frentes diferentes, começando ainda a entender nossos caminhos e qual a melhor forma de contribuirmos", diz Daniele. Mestre e doutora pela Universidade Federal de Curitiba, a pesquisadora iniciou sua carreira voltada para a sistemática de insetos. "A sistemática de abelhas é a minha linha de pesquisa principal, mas desde que eu vim pra cá essa linha vem se ampliando em função do perfil dos alunos que eu recebo no laboratório, que é muito diverso".
A equipe do LabHym inicia 2024 composta por jovens entomólogos com graduação nos cursos de Agronomia, Ciências Biológicas e Engenharia Florestal. Sob orientação de Daniele, eles vêm realizando trabalhos não apenas em sistemática, mas também voltados para a biodiversidade. "Estamos iniciando um projeto que objetiva entender como a ação antrópica influencia a comunidade de abelhas da caatinga. Desde que eu vim pra cá era algo que eu queria explorar. Não conhecemos muito a diversidade de abelhas da caatinga, então esse é um foco importante, relevante não apenas pra nós, mas também para toda a entomologia brasileira."
A entomologia aplicada à agricultura também é uma é uma linha do laboratório - o Programa de Pós-Graduação nasceu como Entomologia Agrícola, e só recentemente passou a ser chamado apenas com o primeiro nome, como forma de ampliar seu alcance. Nesse contexto, a polinização de culturas também é interesse do LabHym. "Quando eu vim para cá, ainda para o pós-doc, eu trabalhei com polinização de acerola, e temos um pesquisador que agora dará continuidade a essa linha de pesquisa."
Por fim, a equipe tem investido nos inventários de fauna, especialmente de vespas. "Meu foco sempre foi em abelhas solitárias, embora o trabalho com inventário nos permita conhecer um pouco dos demais táxons também. Durante meus primeiros anos de estudo, fui acumulando exemplares de vespas, imaginando que um dia poderia desenvolver mais este lado, e é o que estamos fazendo", conta Daniele. Agora, a equipe tem formada uma coleção científica que promete crescer e se tornar referência no Nordeste. "A gente tem grandes coleções no Sudeste, no Sul, e aqui não temos. Eu tenho uma formação nisso, fiquei anos trabalhando exatamente com curadoria de coleções, é onde quero atuar."
A meta da equipe é crescer não somente em número de exemplares, mas principalmente em representatividade territorial, cobrindo lacunas muito visíveis hoje nas pesquisas com Hymenoptera. "Temos projetos que já foram desenvolvidos na região metropolitana de Recife, por exemplo, mas esta é uma fauna de Mata Atlântica. A nossa ideia agora é também representar a fauna de caatinga, criando uma fonte de informação não só para o meu grupo de pesquisa, mas para outros pesquisadores."
A oportunidade de fazer diferença na Entomologia do Nordeste brasileiro é valorizada por Daniele também no sentido de multiplicar as oportunidades oferecidas aos cientistas em atuação na região. "Vejo alunos com muito interesse aqui que, talvez, não tivessem oportunidade de estudo se precisassem ir para outros estados. Temos um curso de excelência, com uma chegada real e constante de novos pesquisadores, e são eles que ajudarão a suprir essas lacunas de conhecimento que existem não só nos estudos com abelhas, mas na entomologia de forma geral."
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