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Foto: Frederico Falcão Salles

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Nelson Papavero e a sistemática filogenética que mudou a Zoologia brasileira 


Professor Papavero construiu sua carreira no Museu de Zoologia da USP (Foto: Gustavo Morita)

Impossível seria computar quantas vezes o nome do professor Nelson Papavero é citado quando se fala da história da entomologia brasileira nos últimos 60 anos. Com uma vida dedicada à sistemática biológica e aos insetos, mais especificamente à ordem Diptera, ele mudou o curso da zoologia feita no país quando se tornou um dos principais disseminadores da sistemática filogenética, entre o final da década de 1960 e início da década de 70. "Ele formou uma geração inteira de sistematas com conhecimento de teoria e prática filogenética no Brasil. Ele sempre acreditou muito na capacidade da nova geração de aprender rápido e de colocar em prática e fez um investimento pessoal imenso dando cursos de Manaus e Roraima até o Rio Grande do Sul. Isso mudou o Brasil!", relata o professor Dalton de Souza Amorim, da Universidade de São Paulo (USP), amigo e ex-orientado de Papavero. 


"Essa é apenas uma das grandes contribuições dele. Hoje, o Brasil é o segundo maior produtor ciência na área de Zoologia do mundo. A Zoologia é a área de pesquisa brasileira com maior impacto mundial (quando se compara com o que produzem os outros países). Uma das causas disso é o fato de o Brasil ter mantido financiamento de pesquisa em biodiversidade ao longo dos anos. A outra causa é a formação teórica brasileira em sistemática, que é muito boa. O professor Papavero é corresponsável por esse impulso contribuindo para a qualidade da formação brasileira de maneira que as instituições mantivessem esses financiamentos na área de biodiversidade", garante Dalton.


Papavero começou sua carreira de pesquisador em 1961, quando iniciou sua graduação em ciências biológicas pela USP. Dez anos depois, doutorou-se, no Museu de Zoologia da USP, sob orientação do professor Paulo Emílio Vanzolini. O professor Vanzolini teve grande influência no início da formação de Papavero, mas seus caminhos se desencontraram pouco tempo com o interesse do professor Papavero pelo trabalho do pesquisador alemão Willi Hennig, que naquele momento trabalhava nos fundamentos da sistemática filogenética. "Não tinha ninguém mexendo com isso no Brasil - na verdade, tinha pouca gente mexendo no mundo. O Vanzolini criticou muito a sistemática filogenética e foi uma fonte de resistência." 


Coube a Papavero e aos colegas Angelo Pires do Prado e Nelson Bernard atuarem como expoentes da sistemática filogenética no Brasil. A teoria e a prática filogenética passou a constar não apenas em suas publicações e de seus alunos, mas também foi levada de forma cada vez mais consistente a toda a comunidade científica brasileira. "O Papavero foi presidente da Sociedade Brasileira de Zoologia por seis anos (de 1982 a 1988), e levou a sistemática filogenética para os Congressos Brasileiros de Zoologia. Começou a haver cursos e disciplinas em programas de pós-graduação. O professor Papavero criou, com uma fundamentação gigantesca, os Cursos Especiais de Sistemática Zoológica como um dos programas institucionais do CNPq, com seis versões entre 1982 e 1986."


A consolidação da sistemática filogenética no Brasil mudou, dentre outras coisas, as agendas de pesquisa no país, fazendo com que um número cada vez maior de pesquisadores se preocupassem em enxergar as espécies em seu contexto histórico, com o olhar voltado para as relações e padrões que podem ser observados entre ancestrais/descendentes e entre grupos irmãos. Em defesa dessas ideias, Papavero também deu muitos cursos de pós-graduação pelo Brasil, viajou muito, e avançou também em outras áreas teóricas importantes. "Ele é de uma clareza excepcional para explicar os conceitos e é uma pessoa muito provocativa. Alguns pesquisadores muito importantes fora do Brasil diziam 'posso não concordar com todas as ideias do professor Papavero sobre sistemática, mas definitivamente ele sabe provocar as pessoas para que elas pensem'".


Aposentado pelo Museu da USP desde 1997, o professor segue contribuindo até hoje com a ciência produzida no Brasil. Nos últimos anos, vem unindo sua paixão pela biologia com o interesse pela evolução da linguagem. Ele está trabalhando em um dicionário de nomes de animais no Brasil com três entradas: o nome em português, o nome científico, e o nome em Nheengatu. "É um dicionário gigantesco, maravilhoso, envolvendo muita pesquisa. Ele acessou manuscritos nunca publicados de Jesuítas, de navegantes do século XVI, XVII e XVIII, e isso nos dá uma visão muito especial, por exemplo, sobre qual era a distribuição de muitas espécies que hoje estão restritas."


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