Acontece nesta sexta, 15 de dezembro, na USP de Ribeirão Preto, a apresentação da edição especial da Revista Brasileira de Entomologia (RBE) em homenagem ao professor Claudio Gilberto Froehlich. Um dos pioneiros do Brasil no estudo dos insetos aquáticos, o professor Froehlich faleceu no último dia 27 de novembro, aos 97 anos, deixando um imensurável legado para a entomologia brasileira.
"Ele era extraordinário, não só como orientador, mas também como pessoa. Nos deixava muito à vontade no trabalho, mas ao mesmo tempo fazia com que a gente se dedicasse muito, inclusive inspirados por sua própria dedicação até os 80 e tantos anos de idade. Sempre ia a campo com a gente, ia para a beira do rio, fazia trilha, não tinha tempo ruim. Tratava todo mundo de igual pra igual, nos orientando com muita seriedade e determinação", conta o professor Rodolfo Mariano, seu aluno desde a iniciação científica até o doutorado.
Rodolfo é um dos autores do artigo "Not just a taxonomist, but a naturalist! The foundations of “Froehlich’s Autonomous Stonefly Republic”, que será publicado pela RBE nesta edição especial. No texto, ele e os colegas Luiz Carlos Pinho e Adolfo Calor, também ex-alunos de Froehlich, apresentam a expressão "República Autônoma de Plecoptera de Froehlich" como uma forma de dimensionar o legado deixado pelo pesquisador, que atuou na descrição de 81% das espécies de Plecoptera sulamericanas já apresentadas.
A carreira de Froehlich começou nos anos 1950, quando tornou-se o primeiro brasileiro a lecionar Zoologia na USP (que até então tinha professores estrangeiros). Nesta época, ele dedicava-se à taxonomia de planárias terrestres, tendo publicado artigos que até hoje são referência na área. Anos depois, quando foi à Suécia para um pós-doc, o professor passou a estudar os insetos aquáticos, e publicou o primeiro de muitos artigos sobre Plecoptera. O trabalho de Froehlich com insetos aquáticos também envolveu a descrição de espécies de Ephemeroptera, Trichoptera e Coleoptera. Ao todo, foram 95 artigos científicos, 21 capítulos de livro e dois livros, além da formação de 41 mestres e doutores na área de entomologia aquática.
Nas últimas décadas, discípulos e admiradores Froehlich descreveram nada menos que 38 espécies de insetos batizadas em homenagem ao professor. "Acho que o maior legado dele para a pesquisa brasileira é essa escola que ele plantou, essas sementes que estão em todos os pesquisadores que ele formou. Isso, para o desenvolvimento regional da entomologia, em áreas em que os estudos são escassos, é muito importante", diz Rodolfo, destacando a abrangência territorial da atuação dos pesquisadores formados por Froehlich. "Com seus alunos, ele conseguiu ocupar quase todo o território brasileiro. Há pelo menos dois alunos dele atuando em cada região do Brasil, e isso é muito importante para conhecermos a fauna de insetos aquáticos do país todo. O Sudeste foi muito estudado, e nos últimos 15 anos a gente avançou muito em outras regiões, em estados como a Bahia e o Amazonas, por exemplo, muito em função destes focos de conhecimento que foram semeados por ele".
Edição especial
A edição em homenagem ao professor vinha sendo preparada desde meados deste ano, e a expectativa dos editores era de que ela pudesse ser lançada na presença do homenageado. "A ideia surgiu quando soubemos que alunos dele fariam um artigo com espécies novas em homenagem a ele. Pensamos então, 'vamos fazer mais do que isso', e veio a ideia da edição especial, abrindo espaço para que outras pessoas também pudessem homenageá-lo. É um reconhecimento mais que justo da importância dele", diz Frederico Salles, editor da RBE.
Os primeiros artigos que compõem a edição já estão disponíveis e podem ser acessados aqui. Outros títulos serão incluídos nos próximos dias.
O evento de apresentação da publicação é aberto a todos, e acontece às 14h, no Anfiteatro André Jacquemin, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP - Campus Ribeirão Preto.
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