Pensar em joaninhas no Brasil, para muita gente, significa também pensar no trabalho da professora Lúcia Massutti de Almeida. Em mais de 30 anos de carreira desenvolvida na Universidade Federal do Paraná (UFPR), a pesquisadora construiu uma história sólida, que segue firme e ativa, acumulando feitos na história da entomologia brasileira. "Seria injusto se não incluíssemos ela nesta lista de professores homenageados nesta série de publicações, porque a contribuição dela para o desenvolvimento da entomologia no Brasil é muito significativa, principalmente quando a gente pensa nas pesquisas com Coccinellidae", diz o professor Fernando W. T. Leivas, orientado por Lúcia no mestrado, no doutorado, e no pós-doutorado.
Entre as muitas contribuições da professora, Fernando, que hoje é também professor da UFPR, destaca o fato de ela ter desenvolvido tão a fundo o estudo de Coccinellidae no Brasil, a ponto de se tornar referência no assunto, e a formação de recursos humanos, que reverbera em inúmeros avanços para a pesquisa brasileira. "Lúcia já formou muitas pessoas, que hoje também desenvolvem estudos com as joaninhas em outras regiões do país, e também formou pesquisadores em outros grupos de insetos. Ela contribuiu muito para a expansão da pesquisa, nos encorajando a nos especializar, por exemplo, em novas famílias de besouro. Nesses 30 anos, ela formou pesquisadores em muitas famílias onde havia carência de estudos no Brasil." Boa parte destes profissionais estão hoje desenvolvendo e expandindo essas pesquisas em universidades pelo Brasil. "Vejo que ela, de fato, assumiu esse desafio, de orientar em grupos que não eram a especialidade dela, e o cumpriu com muito êxito. Felizmente, alguns dos formados estão hoje dando continuidade a isso."
O principal objeto de estudo de Lúcia chegou em sua vida ainda na graduação, já na UFPR, quando ela fazia estágio no laboratório do professor Renato Contin Marinoni e recebeu a visita de outro professor, o Padre Moure. Foi ele quem sugeriu que ela voltasse seu olhar para as joaninhas. Pouco tempo depois, em uma visita ao Museu Nacional, Lúcia foi recebida pelo Dr. Miguel Angel Monné, que deu a ela amplo acesso à coleção do Dr. Felisberto Camargo, que havia trabalhado com Coccinellidae no mundo todo. Dali em diante, ela trilhou seus próprios caminhos, dedicando seu mestrado e doutorado ao tema que a tornou referência nacional. "Hoje, as pessoas que trabalham com taxonomia e sistemática de joaninhas, foram influenciadas ou tiveram a participação da professora Lúcia em sua formação. Não é possível estudar as joaninhas sem, em algum momento, se deparar com a biografia dela." Anos mais tarde, Lúcia ganhou notoriedade também trabalhando, de forma pioneira, com besouros de importância forense.
"Ela é de uma extrema capacidade de diálogo, de muito bom relacionamento, de bom senso e muito ponderada. Sempre soube tomar muito cuidado na hora de se comunicar com as pessoas, e tem uma capacidade muito boa de resolução de problemas complexos", conta Fernando. Como orientadora, Lúcia chama a atenção por ser muito afetiva, humana, capaz de ver o pesquisador como um indivíduo completo, além de um cientista, e acolher essas características todas. Apesar da rotina intensa de trabalho no laboratório, ela mantém o incentivo à vivência, à experiência de vida. "Eu sempre brinco com ela que, se eu conseguir ter 10% das habilidades que ela apresenta tanto como pesquisadora quanto como pessoa, com certeza já estarei dando uma contribuição importante, não só para a Academia, mas para a sociedade."
Além do trabalho como professora, Lúcia também foi presidente da Sociedade Brasileira de Entomologia em três ocasiões, coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Entomologia da UFPR por dois períodos diferentes, editora Chefe da Revista Brasileira de Entomologia (RBE) e Suplente de Chefe do Departamento de Zoologia. Vinculada ao Departamento de Zoologia, ela segue orientando estudantes de mestrado e doutorado.
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